O presidente colombiano, Gustavo Petro, anunciou planos para cortar relações diplomáticas com Israel devido à guerra na Faixa de Gaza, que defensores dos direitos humanos e outros especialistas alertaram que poderia constituir um genocídio.
Falando perante uma multidão que assinala o Dia Internacional dos Trabalhadores em Bogotá, na quarta-feira, Petro disse que os países não podem ser passivos face à crise que se desenrola em Gaza.
“Aqui na sua frente, o governo da mudança, do presidente da república, anuncia que amanhã romperemos relações diplomáticas com o estado de Israel… por ter um governo, por ter um presidente que é genocida”, disse Petro.
Líder de esquerda que chegou ao poder em 2022, Petro é considerado parte de uma onda progressista conhecida como “maré rosa” na América Latina. Ele tem sido um dos críticos mais veementes de Israel na região desde o início da guerra em Gaza.
Em Outubro, poucos dias após o início do conflito, Israel disse que estava a “suspender as exportações de segurança” para a Colômbia depois de Petro ter acusado o ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, de usar uma linguagem semelhante à que os “nazis disseram dos judeus”.
Gallant disse que o país estava lutando contra “animais humanos” em Gaza, ao ordenar um cerco total ao território após os ataques mortais no sul de Israel em 7 de outubro.
Um mês depois, Petro acusou Israel de cometer “genocídio” no enclave palestino sitiado, atraindo mais ira de autoridades israelenses e de grupos de defesa pró-Israel.
E em Fevereiro, a Colômbia suspendeu as compras de armas israelitas depois de as forças israelitas terem aberto fogo contra os palestinianos que lutavam por ajuda alimentar em Gaza – um evento que Petro disse “recordar o Holocausto”.
Os comentários do presidente colombiano na quarta-feira ocorrem em meio a preocupações crescentes sobre uma possível ofensiva terrestre israelense na cidade de Rafah, no sul, que o chefe das Nações Unidas, Antonio Guterres, disse que marcaria uma “escalada insuportável”.
Mais de 34.500 palestinianos foram mortos na ofensiva militar de Israel na Faixa de Gaza até à data, e o enclave enfrenta uma crise humanitária contínua, com especialistas a alertar para a fome.
Não houve comentários imediatos do governo israelense sobre os planos da Colômbia de cortar relações diplomáticas com o país.
Entretanto, no início de Abril, o governo colombiano solicitou a adesão a um caso no Tribunal Internacional de Justiça (CIJ) acusando Israel de genocídio.
“O objectivo final da Colômbia neste esforço é garantir a protecção urgente e mais completa possível aos palestinianos em Gaza, em particular às populações vulneráveis como mulheres, crianças, pessoas com deficiência e idosos”, afirmou o país.
COMUNICADO DE IMPRENSA: #Colômbia apresenta uma declaração de intervenção nos termos do artigo 63.º do #ICJ Estatuto no caso relativo à aplicação da Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio na Faixa de Gaza (#África do Sul v. #Israel) pic.twitter.com/ov1i62FDuW
-CIJ_ICJ (@CIJ_ICJ) 5 de abril de 2024
O tribunal superior da ONU decidiu em Janeiro que os palestinianos enfrentavam um risco plausível de genocídio em Gaza e ordenou a Israel que evitasse tais actos.
A Relatora Especial da ONU, Francesca Albanese, também disse no final de Março que havia “motivos razoáveis para acreditar que o limiar que indica a prática de… actos de genocídio contra os palestinianos em Gaza foi atingido”.
“A natureza esmagadora e a escala do ataque de Israel a Gaza e as condições de vida destrutivas que infligiu revelam uma intenção de destruir fisicamente os palestinianos como um grupo”, disse Albanese num relatório.
Israel negou as acusações de genocídio, qualificando o relatório de Albanese de uma “inversão obscena da realidade”.